O Governo do MPLA, o único que Angola conheceu desde a independência, em 1975, assinala os 45 anos de independência a partir de terça-feira, com homenagens e inaugurações, entre as quais a do Hotel Intercontinental, nacionalizado no mês passado.
No dia 11, quarta-feira, data em que se celebram os 45 anos da “Dipanda”, as cerimónias começam às 07h00 com o içar da bandeira no Museu Central das Forças Armadas Angolanas, seguindo-se às 09h00, a deposição de uma coroa de flores no memorial António Agostinho Neto, primeiro presidente de Angola, o maior genocida do país que ordenou o assassinato de milhares e milhares de angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977, que proclamou a independência em Luanda, às 00h00 do dia 11 de Novembro de 1975, tal como Jonas Savimbi e Holden Roberto a proclamaram no Huambo.
Para as 10h00 está prevista a inauguração do Hotel Intercontinental, nacionalizado pelo Presidente João Lourenço no dia 28 de Outubro, passando as participações a pertencer na totalidade à petrolífera estatal Sonangol.
O despacho presidencial justificava, na altura, que “a unidade hoteleira em causa tem elevado potencial económico e a sua transferência para o domínio público reveste-se de interesse nacional, em virtude de ter sido constituída com fundos públicos”.
O hotel pertencia a sociedades ligadas a Manuel Vicente, ex-vice-presidente angolano e ex-presidente da Sonangol, Ismael Diogo da Silva, presidente da Fundação Eduardo dos Santos (Fesa) e António de Jesus Castelhano Maurício, presidente da Suninvest, ligada à Fesa. Todos pertencentes ao MPLA (organização que a nível mundial lidera o ranking dos partidos que mais corruptos têm por metro quadrado), e do qual faz parte – é, aliás, seu Presidente – João Lourenço.
Pela mesma hora, deverão estar a dirigir-se para o largo do Cemitério de Santa Ana, jovens e activistas que (manipulados por Jonas Savimbi a partir da sua campa no cemitério de Lopitanga) se vão manifestar pela melhoria das condições de vida e reivindicar a marcação de eleições autárquicas, prevendo seguir em desfile até ao Largo 1.º de Maio. Refira-se que não têm razão. Basta ver que, graças ao MPLA, Angola com cerca de 30 milhões de habitantes apenas tem 20 milhões de… pobres.
Nós por cá somos cerca de 30 milhões, considerando a soma dos angolanos de primeira (os do MPLA), de segunda (os que dizem que são do MPLA) e os outros. Pobres? “Só” 20 milhões. Angola é, por exemplo, dos nove Estados lusófonos o país com pior cobertura de serviços básicos de Saúde, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Banco Mundial (BM). Será possível?
(In)dependente há 45 anos, tendo no governo sempre o mesmo partido (o MPLA), estando há 18 anos em paz total, sendo um país rico… algo vai mal (muito mal) no reino.
Será então caso para dar os parabéns a este partido, nomeadamente a João Lourenço (mas sem esquecer José Eduardo dos Santos), e lembrando que o actual Presidente fez durante anos, muitos anos, parte da estrutura dirigente do MPLA, sendo por isso conivente activo no desastre deste país. País que, aliás, é líder noutros “rankings”, casos da corrupção e da mortalidade infantil.
Nos serviços básicos, o país do MPLA tem uma taxa de cobertura de apenas 36%. De entre as nações lusófonas, seguem-se a Guiné-Bissau, com 39%, Moçambique (42%), Timor-Leste (47%), São Tomé e Príncipe (54%), Cabo Verde (62%) e Brasil (77%). Portugal é o país lusófono com melhor resultado, tendo mais de 80% da sua população coberta.
A estratégia de João Lourenço é simples e transparente e respeita todos os cânones do MPLA: os escravos não têm direito a reivindicar seja o que for, muito menos quererem ser considerados iguais aos seus donos. Por muito musculada que seja a força da razão dos escravos, nunca vencerá a razão da força dos seus proprietários.
Assim sendo, antes de ser provado já o MPLA provou o seu direito legal de propriedade sobre – entre outros – os pretos ovimbundos, tal como “consta” do acordo de rendição assinado em 2002 pela UNITA. E não adianta aos “chefes” dos escravos virem falar de “intolerância política”. Não nos esqueçamos que o emblemático e histórico dirigente do MPLA, já falecido, general Kundi Paihama, disse (sem nunca ter sido desmentido) que em Angola existem dois tipos de pessoas, os angolanos e os kwachas, tal como aconselhou estes a comer farelo porque “os porcos também comem e não morrem”.
A democracia é isso mesmo. Recordam-se de uma célebre Comissão Parlamentar do Inquérito (CPI) sobre a intolerância política na Província do Huambo e que foi presidida pelo deputado e general Higino Carneiro, e que era composta por 15 deputados, dos quais 12 do MPLA e os restantes três divididos democraticamente pela UNITA, PRS e FNLA?
Como seria de calcular, essa CPI apurou que “os assassinatos invocados pela UNITA como tendo ocorrido nos municípios do Bailundo, Katchiungo, Tchikala Tcholohanga, Ukuma, Ecunha, Londuimbali e Caála não resultaram de intolerância política, mas, de crimes do foro comum, relacionados, com práticas ligadas à feitiçaria”.
E apurou muito bem. Aliás, sendo o MPLA dono absoluto da verdade, estava fácil de ver que a teoria da UNITA era uma manifesta mentira. E a CPI foi, mesmo assim, muito condescendente com os escravos do Galo Negro porque, num acto de assinalável magnanimidade, não acusou a UNITA de ter sido ela própria a provocar as mortes só para acusar, denegrir e enxovalhar a impoluta imagem do partido que nos governa desde 1975.
Em síntese, o MPLA não conseguiu gerar riqueza, mas conseguiu gerar ricos. Somos o país que mais ricos tem por metro quadrado. Ao lado, o país é o que mais pobres tem, também por metro quadrado. Mas não vale a penas desesperar. Tudo indica que daqui a 55 anos Angola estará já com alguns destes problemas resolvidos. Isto se o MPLA continuar no Poder.
Se os portugueses foram donos de Angola durante várias centenas de anos, por que razão não poderá o MPLA aspirar a bater esse recorde?
Folha 8 com Lusa